quinta-feira, 13 de junho de 2019

Amor e Logoterapia


Aproveitando a semana do dia dos namorados (12 de junho aqui no Brasil), vamos conversar um pouco sobre o amor na Logoterapia e Análise Existencial?
Segundo Frankl (2018), o amor tem relação estrita não com o que a pessoa possua (em termos de qualidades ou característica), mas com aquilo que a pessoa é. Não se desconsidera, deste modo, as características e qualidades que a pessoa venha a possuir - longe disso! Mas considera-se, ainda, o próprio portador da qualidade/característica: aquela pessoa em sua singularidade e unicidade, que se encontra por trás daquelas características. Desvelá-la e encontrá-la, segundo Frankl (2018), é amar. 

Assim, alguns questionamentos podem surgir:
- O fascínio que eu sinto por aquele cantor/ator pode ser considerado amor? Segundo Frankl (2018), trata-se muito mais de um fascínio por uma peculiaridade que a pessoa tenha, seja pela sua voz, seja pelo seu sorriso, entre outros.  
- Eu gosto de todas as pessoas que tenham uma determinada característica (cabelos cacheados/ lábios grossos/olhos azuis). Isso pode ser considerado amor? O amor é, em última instância, instransmissível. Nesse sentido, amo o que a pessoa é, não uma característica que ela possua e que outras pessoas, porventura, possam possuir também. 
- O amor é cego? Muito pelo contrário! O amor enxerga o outro, nitidamente, em sua profundidade. Seria, de fato, contemplar um tu em sua inteireza e completude - pois abarca não apenas aquilo que o sujeito é, mas também as suas potencialidades, o seu vir-a-ser. 

É importante ressaltar que o amor não exclui a dimensão da sexualidade - mas também não se limita só a ela, uma vez que esta, em uma relação afetiva, é meio de expressão do amor (afastando, deste modo, as concepções de que a sexualidade só serviria para a procriação ou propagação da espécie). 

Ainda segundo Frankl (2018), o processo de amadurecimento do indivíduo (do puramente "instintual" ao amor, em sua plenitude) pode ser posto em risco por dois fatores: 1. o desânimo; 2. a desilusão. O desânimo pode ser observado quando a pessoa não consegue aceitar a viabilidade de um relacionamento amoroso feliz. A desilusão, por sua vez, pode ocorrer através de duas vias: 1. quando a pessoa, apesar de possuir as melhores condições para desenvolver um relacionamento feliz e amoroso,é rejeitada pelo parceiro; 2. quando a pessoa se desilude não com um parceiro/parceira, mas com a busca pelo sentido de sua existência. Nesses casos, usualmente, as pessoas investem em uma busca pelos instintos e em um afugentamento do amor: a quantidade ocupa o lugar da qualidade; a pessoa começa então a buscar a satisfação dos instintos, e quanto menos ela acreditar que na possibilidade de realizar os seus anseios de amor, mais ela irá em busca da satisfação dos instintos. A vontade de sentido, então esvaziada, dá lugar à vontade de prazer. 

Em tempos como os atuais (conforme o próprio Frankl já citava em suas obras), assistimos cada vez mais pessoas em uma busca desenfreada pelo prazer. A unicidade tem cedido lugar à quantidade: em tempos de "ninguém é insubstituível", olhar o outro em sua inteireza e completude tem sido cada vez mais difícil. Assim, lhes faço um convite: vamos começar a observar e apreender o outro naquilo que ele é? Na singularidade de um tu? ;) 



Referência:
- FRANKL, V. Psicoterapia para Todos: uma psicoterapia coletiva para contrapôr-se à neurose coletiva. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

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