"Nenhuma doutrina me convence
Nenhuma resposta me satisfaz
Nem mesmo o tédio me surpreende mais"
Lançada no álbum "Anacrônico" (Pitty, 2005), a música Déja Vu traz diversas reflexões pertinentes, especialmente quando o assunto são os valores vivenciais. Para compreender melhor, vamos analisar a letra mais de perto:
"Nem uma verdade me machuca
Nem um motivo me corrói
Até se eu ficar só na vontade já não dói
Nem uma doutrina me convence
Nem uma resposta me satisfaz
Nem mesmo o tédio me surpreende mais"
Esses trechos nos trazem alguns indícios sobre a pessoa que está dialogando conosco através da música: é alguém que está perdendo a capacidade de sentir, de acreditar, de se sentir atraída por algo - e que é ressaltado através desses outros versos:
"Nenhum sofrimento me comove
Nenhum programa me distrai
Eu ouvi promessas e isso não me atrai"
É alguém que, em outras palavras, não consegue mais encontrar sentido nas vivências cotidianas - que podem fazer sentido para outras pessoas: é só pensarmos nas pessoas que esperam ansiosas o início de uma nova série de TV, ou que seguem as ideias de uma determinada doutrina e se sentem motivades por isso. Mas será que nada mais faz sentido para essa pessoa? Há sim:
"Mas eu sinto que eu tô viva
A cada banho de chuva
Que chega molhando o meu corpo"
Quando ela fala sobre a chuva, ela está falando de uma vivência - e é fundamental ressaltarmos que Viktor Frankl (1985) já falava sobre vivências e da sua importância nas subjetividades individuais, uma vez que através das vivências podemos também realizar sentidos - e se você pensou nos valores vivenciais, acertou! Já falamos sobre as categorias de valores aqui: https://alogoterapiaeobvia.blogspot.com/2019/06/classes-de-valores.html.
Na música nos é dito que a chuva traz a compreensão de que ainda há vida naquele corpo - mas também traz esclarecimentos sobre aquilo que já não está mais lá, daquilo que foi perdido e daquilo que foi deixado para trás. Como foi deixado? Por que foi deixado? Não podemos desconsiderar que, em um mundo de excessos como o que estamos inseridos, em muitas situações deixar de lado é também uma tentativa de resistência, mesmo que não-consciente (inclusive, notem que nesse momento o vídeo volta a ter cores. Achei fantástica essa sacada! Parabéns equipe de edição *-*).
A vivência do banho de chuva trouxe a compreensão de que a vida ainda está ali, e que merece ser vivida ainda mais uma vez, para que o banho de chuva seja sentido ainda mais uma vez.
E você? Qual a vivência que faz sentido para você?
Referências:
Música: https://www.youtube.com/watch?v=His5BZcgxj8
Imagens:
- https://veinaboua.wordpress.com/2012/01/11/deja-vu-pitty/
- https://imvdb.com/video/pitty/deja-vu
Livros:
- Frankl, V.E. (1978). Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
- Frankl, V. E. (1985). Em busca de sentido. Petrópolis, RJ: Vozes.
- Frankl, V.E. (2011). A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da Logoterapia. São Paulo: Paulus.
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