Desde que o Covid-19 chegou ao Brasil - e com ele, a necessidade de isolamento social/ quarentena, algo que tem sido muito presente são os comentários a respeito desse momento. Foi inevitável lembrar de algumas questões que Viktor Frankl (1985; 2011; FIZZOTTI, 1996) trazia, em especial no que diz respeito às classes de valores (para quem não lembra, está aqui: https://alogoterapiaeobvia.blogspot.com/2019/06/classes-de-valores.html).
O leitor há de convir comigo que estamos em uma sociedade marcadamente capitalista, na qual você precisa, necessariamente, estar trabalhando/produzindo para que você possa estar fazendo parte da sociedade (um exemplo são os "aposentados", cujo termo significa "estar recluso ao aposento/ quarto, e que muitas vezes adoecem depois da "aposentadoria"). Tudo gira em torno do trabalho: amizade, dinheiro, auto estima, metas, objetivos... E o que acontece quando tudo isso para de acontecer? Bem, é exatamente isso que está acontecendo atualmente, com o isolamento social.
Trabalhar é adoecedor? É ruim para a humanidade? Não, de forma nenhuma. Inclusive Frankl (2016) ressalta a importância do trabalho, enquanto um valor criativo, como um elemento essencial na existência dos seres humanos. É a capacidade de criar algo, de dar algo para o mundo. Isso é um grande agregador de sentido à vida dos sujeitos... Mas não é só isso, porque temos também os valores vivenciais e atitudinais.
Contudo, a nossa cultura coloca o valor criativo em um patamar mais elevado, em detrimento às outras categorias. Você é aquilo que você produz - e isso sim é um fator de adoecimento aos sujeitos, porque em prol do lucro (do prazer e do poder), o sentido se esvai.
Quantas vezes em seu cotidiano você fez algo por prazer - nada necessariamente atrelado a ganhar dinheiro? Quantas vezes você deu uma pausa no seu cotidiano para aprender algo que você gosta - simplesmente por gostar, não necessariamente por ter lucro implicado?
Talvez esse momento de quarentena seja uma oportunidade para refletir e re-aprender a vivenciar a experiência de estar-vivo ;)
Referências:
- Fizzotti, E. (1996). Conquista da liberdade: Proposta da Logoterapia de Viktor Frankl. São Paulo: Paulinas.
- Frankl, V. E. (1985). Em busca de sentido. Petrópolis, RJ: Vozes.
- Frankl, V.E. (2011). A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da Logoterapia. São Paulo: Paulus.
- Frankl, V.E. (2016). Psicoterapia e Sentido da Vida. São Paulo: Quadrante.
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