quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

#LogoterapiaeFilmes5 : Drácula de Bram Stocker e o sentido do amor

"Eu atravessei oceanos de tempo
para te encontrar"
(Drácula)

O filme Drácula de Bram Stoker (1992 / 128 min/ Columbia Pictures), foi dirigido por Francis Ford Coppola e teve a participação de Gary Oldman (Drácula - e o melhor Drácula da história do cinema, diga-se de passagem), Winona Ryder (Mina Murray), Anthony Hopkins (Van Helsing), Keanu Reeves (Jonathan Harker), Cary Elwes  (Arthur Holmwood), Richard E. Grant (Dr. Jack Seward). 


O filme conta a história do líder romeno Vlad Dracul, que, ao defender a igreja cristã na Romênia contra o ataque dos turcos, tem sua noiva Elisabeth enganada: esta crê que seu amado morreu e então atira-se no rio.Vlad, ao retornar da guerra e constatar a morte de sua amada, e a condenação desta ao inferno (devido ao suicídio), renuncia e renega a Deus e à igreja  - sendo assim condenado à sede eterna, ou seja, ao vampirismo. Quatro séculos se passam, e ele redescobre a reencarnação de Elizabetha, em Londres, agora conhecida como Wilhelmina Murray (Mina). Jonathan Harker, noivo de Mina, parte a trabalho para a mansão do Conde Drácula, onde irá vender dez terrenos na área de Londres para este estranho Conde. Lá é feito prisioneiro, enquanto o conde se encaminha à Inglaterra para reencontrar sua amada. 



Eu devo confessar a vocês: esse é um dos meus filmes preferidos. É uma adaptação do livro Drácula, de Bram Stoker (1897) - que também é um dos meus livros preferidos - e, quando eu soube que esse filme existia, saí correndo para assistir. E não me decepcionei! Ele aborda o amor e a (des)humanidade do ser humano com grande maestria: afinal de contas, até que ponto o ser humano é, de fato, humano? Quem é, afinal, o monstro da história? - são questões que ficam ecoando depois de assistir a essa obra prima.Mas nesse texto, iremos focar em um aspecto específico: o amor.

"O homem mais feliz da terra é aquele que encontra o verdadeiro amor"
(Drácula)

Primeiro e antes de tudo: Drácula ama a Mina? Para começo de conversa, é importante avaliarmos o histórico do Drácula. Ele estava em um relacionamento com a sua princesa Elizabeth, que cometeu suicídio ao receber uma carta que dizia que o seu amado havia falecido. Nesse momento, ele renuncia a Deus e à igreja e se torna vampiro.


Sem a sua amada - e sem um sentido para a sua vida, Drácula se volta para a vontade de prazer e para a vontade de poder: ele tem vários relacionamentos (um exemplo são as suas três noivas e depois, a Lucy) e deseja conhecer outros países e conquistar novos territórios - e em uma dessas, conhece Harker, que o ajuda a comprar uma propriedade em Londres.

"Noivas" do Drácula

Drácula e Lucy

Após reencontrar Mina, no entanto, os seus esforços se voltam para re-conquistá-la.
É importante ressaltar que o Drácula sabia sobre a reencarnação de Mina desde o momento em que ele viu a foto dela na carteira do Harker. Contudo, em vez de tentar apressar as coisas, ele permitiu que ela se apaixonasse por ele - e escolhesse ficar com ele ou não. Ele, então, respeitou a liberdade de escolha de Mina, coisa que os demais cavalheiros londrinos não fizeram.

"Eu a amo muito para condena-la" (Drácula)
"Então afaste-me de toda essa morte" (Mina)

E por falar em relacionamentos, abrirei um breve parêntese para um pequeno detalhe... Jonathan. Ele amava Mina?
Após ser aprisionado no castelo do Drácula, Jonathan se encontra com as noivas do Drácula e se envolve com elas. Depois, ao relatar o caso, Jonathan deixa claro que ele foi enfeitiçado... Mas será que foi realmente um feitiço ao qual ele não poderia resistir? Ou será que foi, novamente, uma sociedade que desresponsabiliza o homem quando o assunto é a sua sexualidade? Esse questionamento eu prefiro não responder, deixando a cargo do leitor a reflexão.


Além dessa questão, cabe refletir sobre a forma como Jonathan e Mina se relacionavam. Ao longo do filme, Jonathan escolhia o seu caminho e, por extensão, o da Mina - o que não era incomum para a época. Os relacionamentos se davam, muitas vezes, por formalidade. Os homens não viam a mulher como uma companheira, como um sujeito em sua singularidade; viam-na como um anexo, indispensável para a sobrevivência, mas descartável, caso não houvesse utilidade. Essa forma de se relacionar não pode, segundo a logoterapia, ser considerada "amor".

Então Bruna, Drácula e Mina se amavam?
- Drácula amava Mina - Por ela, ele enfrentou a morte, deixou de lado as suas riquezas e propriedades, abriu mão de outras regalias às quais ele poderia ter acesso e, além disso, ele a via em sua singularidade: respeitando-a e aceitando-a em sua subjetividade. 

- Mina amava Drácula -  Sim! Ela escolheu, de forma livre e responsável, se juntar ao Drácula: livre porque ela teve opções e, entre todas, escolheu uma; responsável porque ela decidiu arcar com todas as responsabilidades relacionadas - arriscando, inclusive, a própria vida, para estar ao lado dele quando ele estava morrendo.



"Nosso amor é mais forte que a morte"
(Mina)

Porque transcende o biológico. Porque transcende a mera paixão. Isso é amor.
E você, como tem amado? ;)

Referências:
- FRANKL, V. Psicoterapia para Todos: uma psicoterapia coletiva para contrapôr-se à neurose coletiva. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.
- Filme Drácula Completo - https://www.youtube.com/watch?v=WmRtEHi7Op0