quarta-feira, 3 de julho de 2019

#LogoterapiaeFilmes 2: Os Minions, a massa e o dirigente


Os Minions são seres multicelulares, amarelos, que evoluíram ao longo de sua história de vida apenas com um propósito: servir aos vilões mais malvados da história (por mais que muitas vezes isso não dê muito certo - como é o caso do Drácula, T-Rex, entre outros). Eles apareceram pela primeira vez nos cinemas no filme "Meu Malvado Favorito", ao servir o grande vilão Gru (aparecendo também na sequência dos filmes e tendo um filme próprio, lançado em 2015. 


Além de vários fatores super interessantes - e super engraçados, diga-se de passagem - sobre estes serzinhos amarelos, há um que salta aos olhos: a servidão incondicional a uma determinada personalidade, que se torna o foco da idolatria dos mesmos. Eles se unem, perdem a sua individualidade (afinal, poucos são reconhecidos ou lembrados pelos seus nomes, sendo usualmente reconhecidos pelo plural, coletivo: os minions) em prol do seu ídolo.
Frankl (2018) trata esse fenômeno como o terceiro sintoma patológico do espírito da época: a massificação. É importante ressaltar que há uma distinção entre individual, coletivo e massa. O coletivo é importante, uma vez que é no seio desta que podemos realizar plenamente o nosso ser-aí; é na interação do homem com o mundo externo que há a realização de sentidos e valores. Além disso, o coletivo precisa das personalidades individuais, na medida em que não podemos deixar de considerar a importância da soma de diferenças dentro de qualquer coletivo. Nesse sentido, o coletivo auxilia o individual, assim como o individual alimenta o coletivo. Há uma relação de contribuição, retroalimentação - o que não acontece com a massa
Nos movimentos de massificação, a individualidade é prescindível: torna-se um embaraço, algo que necessita ser podado em prol do nivelamento. As liberdades individuais são castradas em prol do ideal de igualdade sem o menor traço de personalização. Os sujeitos são levados a deixar as suas diferenças individuais de lado em prol do espírito de rebanho. 
Mas por que isso acontece? Segundo Frankl (2018), isso se deve em grande parte ao fato de que o sujeito médio abomina a noção de responsabilidade. Para isso, tenta ao máximo fundir-se à massa - a sua vontade passa a ser a vontade do coletivo. Sendo assim, quem é o responsável pelos seus atos? qualquer outro (as instituições, a sociedade, aqueles que se atrevem a se personalizar em meio a um movimento crescente de despersonalização) que não ele mesmo.  
Aliás, é importante ressaltar que a liberdade e a responsabilidade só podem ser atreladas a sujeitos individuais. Sendo assim, não há como culpar o coletivo (essencialmente impessoal) por algo - aliás, que o faz, usualmente busca apenas justificar o que lhe é mais cômodo, tentando eximir-se de qualquer responsabilidade - afinal, quem nunca ouviu coisas como "mas todo mundo faz isso..." quando alguém está tentando se justificar de algo considerado errado, não é mesmo?
Quem são os sujeitos que voltam-se, com todo o seu ser, para esse tipo de comportamento? São aqueles que não admitem a possibilidade de um pensamento que seja diferente do seu. Que não admitem a possibilidade de uma existência diversa da sua. Aquele que, de tão afogado na massa, não percebe o ser pessoal do outro, pois não é válido aquilo que o outro pensa, apenas a sua própria opinião - que, por sinal, é permeada pela opinião do outro, chamada de "opinião pública". Frankl (2018) os chama de fanáticos
É justamente o caráter de se permitir enlaçar pela opinião pública que torna o fanatismo perigoso - porque enquanto a opinião pública se apodera de homens isolados, alguns homens isolados se apoderam da opinião pública. E quem são esses? Aqueles que governam . Aqueles que dirigem a massa. Aqueles que, assim como o Gru, trazem um ideal como se fosse seu (ALERTA SPOILER: depois, como vemos nos outros filmes da sequência do "Meu Malvado Favorito", nem era bem assim). 

Nesse sentido, cabe uma citação de Hitler (citada por Frankl, 2018, p.53) na qual ele diz: "é uma sorte para os governantes que os homens não pensem, mas permitam que por eles se pense".


Referências: 
- FRANKL, V. Psicoterapia para Todos: uma psicoterapia coletiva para contrapôr-se à neurose coletiva. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.
- Meu Malvado Favorito. Universal Pictures/  Illumination Entertainment, 2010.
- Meu Malvado Favorito 2. Universal Pictures/  Illumination Entertainment, 2013.
- Meu Malvado Favorito 3. Universal Pictures/  Illumination Entertainment, 2017.
- Os Minions. Universal Pictures/  Illumination Entertainment, 2015.

Imagens: